Inflação é um dos termos mais falados e polêmicos nas discussões corriqueiras no dia a dia de pessoas comuns ou de fóruns econômicos, acompanhado desde a idade média e perseverando até os dias atuais seja no Brasil ou na maior parte dos países do mundo.
Mas o que faz da Inflação um assunto tão relevante? O que é de fato a inflação?
A definição, seja em livros econômicos ou no site do IBGE, é simples e refere-se ao índice que apresenta o aumento de preços de bens e serviços em determinado período.
E na prática?
Toda vez que o consumidor vai, por exemplo, ao supermercado e precisa de mais dinheiro para comprar a mesma quantidade/tipo de mercadorias está vivenciando os efeitos perversos da inflação. Sobretudo as classes sociais menos abastadas, onde a relevância de itens como alimentação é alta frente a sua renda.
Ainda assim, atualmente, no Brasil o índice de inflação é equilibrado e com viés de queda ano a ano, esforço de políticas econômicas, mas em histórico recente, entre as décadas de 1980 e 1990 convivemos com a hiperinflação, que aconteceu porque os preços/serviços se elevaram de maneira descontrolada. No período a inflação chegou a atingir 80% ao mês.
Já em 1994 com a implementação do Plano Real, a inflação no país passou a ficar controlada e em 1999 teve uma meta fixada.
A partir de então, houve um direcionamento nos preços e serviços e os índices que refletem esse comportamento passaram a direcionar as pautas de aumento salariais entre assalariados e patrões, entidades trabalhistas, a política de oferta e demanda da economia e a apuração da taxa de juros do país.
Dados Atuais
Dados da inflação para maio 2.020, de acordo com o IBGE.
• IPCA (maio/20) -0,38% IPCA acumulado 12 meses 1,88%
• INPC (maio/20) -0,25%
Portanto, esses índices refletem que embora negativo no mês de maio a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 1,88%. O INPC ficou negativo.
Inflação Efetiva e a Meta de Inflação no Brasil a partir de 1.999
O gráfico reflete o comportamento da inflação de 1.999 até 2018, observa-se que de 1999 a 2.005 a inflação ficou acima da meta da inflação que variou de 8% a 4% respectivamente. A partir de 2005 com a meta da inflação seguindo flat em 4,5% até 2018 temos oscilações positivas, exceto no ano de 2006 que a inflação efetiva foi 3,14% ante a meta 4,5%. e em 2017 2,95% e em 2018 3,75%
Como é calculada a Inflação?
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) produz dois dos mais importantes índices de preços: o IPCA, considerado o oficial pelo governo federal, e o INPC.
O IPCA (índice de preços ao consumidor amplo) é o índice oficial de inflação no Brasil, é através dele que são estabelecidas as metas de inflação. Ele engloba a variação do custo de vida de uma parcela maior da população, são famílias com renda mensal de 1 e 40 salários-mínimos.
O INPC (índice de preços ao consumidor) por sua vez aponta o custo de vida de famílias com renda mensal de 1 a 5 salários-mínimos. É utilizado para calcular o reajuste do salário-mínimo e usado por trabalhadores e empregadores para negociar aumentos salariais.
Voltando ao IPCA, o cálculo é realizado mensalmente do primeiro ao último dia de cada mês, considerando uma cesta de consumo pré-determinada, comparando-se o preço do mês atual com o preço do mês anterior.
Para que o índice alcance a maior número de famílias do país e buscando considerar as diferenças setoriais de cada região, a medição é realizada em 10 regiões metropolitanas: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Fortaleza, Recife e Belém, e complementando com 3 cidades, Brasília, Goiânia e Campo Grande.
O cálculo é efetivado de forma ponderada com relação ao peso que cada item possui no orçamento das famílias, mas levando em conta apenas a variação dos preços, mas a importância de cada item.
O IBGE ilustra da seguinte forma: Consideremos que em determinado período houve aumento de 1% no preço do arroz. Além disso, houve um aumento da mesma magnitude nos serviços de streaming. Nesse cenário, o impacto do aumento do arroz será maior no índice de inflação, dado o peso que esse item possui no orçamento das famílias brasileiras.
Mas o que compõe a cesta de consumo?
A cesta de consumo é determinada a partir de uma pesquisa de orçamento familiar (POF) realizada pelo IBGE, com uma lista de produtos e serviços bastante ampla. O peso de cada produto ou serviço pode variar conforme os hábitos de consumo da população, geralmente questões regionais definem esse hábito.
Exemplo curioso e embora com representatividade inferior a 0,5% no grupo alimentação fora de casa, está o cafezinho, por algum motivo setorial só e computado e tem efetivamente um peso no computo geral, em São Paulo e Porto Alegre.
Representando 75% da composição dos itens que compõe a apuração do IPCA, estão alimentação (19,97%), transportes (19,85%), habitação (15,59%), saúde e cuidados pessoais (13,55%) e despesas pessoais (6,82%).
Nesses 10 grupos há uma infinidade de subgrupos e espécies utilizados na apuração.
São exemplos do grupo Alimentação e Bebidas: alimentação em casa (que apresenta mais de 20 subitens que por sua vez se decompõe em tipo/espécie são diversos tipos de arroz, feijão, frutas, carnes, chocolates, sorvetes, açucares e frutas diversas (20 tipos).
Em Habitação são considerados aluguel, taxas, energia elétrica, condomínio, material de construção e mão de obra. Transportes (ônibus, metrô, taxi, transporte aplicativo, passagem aérea, veículo próprio, conserto de automóvel, entre outros).
Esses pesos que representam o índice pais, podem ter variações a depender da região onde a cesta de consumo é apurada. Ou seja, pode ter algum produto ou serviço que é importante em uma região e nem aparece em outra, por isso cada um desses itens tem um peso diferente para a apuração dos 10 grupos.
Além do IPCA e do INPC, o IBGE produz outros quatro índices de inflação:
• IPCA-15: difere do IPCA apenas no período de coleta, que abrange, em geral, do dia 16 do mês anterior ao dia 15 do mês de referência. Funciona como uma prévia do IPCA;
• IPCA-E: é o acumulado trimestral do IPCA-15;
• IPP: é voltado para a indústria e mede a variação de preços de venda recebidos pelos produtores de bens e serviços. Sua sigla corresponde ao Índice de Preços ao Produtor;
• SINAPI: é produzido em conjunto com a Caixa Econômica Federal – Caixa e mede a variação de preços para o setor habitacional e de construção. Sua sigla corresponde ao Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil.
Índices de variação de preços apurados por outras instituições não governamentais
A fundação Getúlio Vargas também apura um índice geral de preços, é o IGP-M, é derivado de outros três índices que possuem um peso específico.
• Índice de Preços por Atacado (IPA) – 60%
• Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – 30%
• Índice de Nacional de Custo de Construção (INCC) – 10%
Pela abrangência, seriedade e periodicidade (desde 1940 é calculado) é um importante índice, inclusive, denominado indicador macroeconômico. Funciona, por exemplo, como um indexador de contratos (aluguel, seguros, tarifas públicas, plano de saúde, energia elétrica).
IPC-Fipe – Índice de Preços ao Consumidor, calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE, mede a variação de preços no Município de São Paulo. Ele aponta a variação do custo de vida médio de famílias com renda de 1 a 10 salários-mínimos.
Os tipos de inflação
✓ Inflação de demanda está relacionada à procura por produtos e serviços. Quanto maior a demanda em relação a oferta de determinado produto, ocorre elevação do preço.
✓ Inflação de custos são os aumentos de preços na produção, como por exemplo aumento de matéria prima, mão de obra, energia elétrica, tributos e taxa de juros.
✓ Inflação Inercial ou memória inflacionária ocorre quando a inflação atual é decorrente do índice passado somado a expectativa de inflação futura é quando os preços não se orientam por oferta e demanda, mas sim pelo medo da inflação futura e da indexação dos preços na economia.
Causas da inflação?
Emissão de Moedas, Causas naturais, lei da oferta e demanda
Dentre os motivos que podem ocasionar a inflação estão a emissão de papel moeda (quando o governo precisa emitir dinheiro para cobrir seus gastos), redução da taxa básica de juros (estimula o aumento do consumo) cartéis ou monopólios (uma ou poucas empresas determinam o preço do de um produto), elevação da carga tributária e até causas naturais (elevação de preço em função de condições meteorológicas adversas em regiões especifica).
Índice Pessoal de Inflação
Segundo informado pelo IBGE existe ainda um índice pessoal de inflação, que pode ser apurado dependendo do comportamento de consumo de uma família, que teoricamente irá apurar um cálculo diferente do IPCA. Isso se dá pois os hábitos de consumo e de serviços seriam diferentes da cesta de consumo apurada pelo governo, é como se existisse uma cesta “individualizada”, por isso o índice pessoal pode ser tanto maior como menor do que o IPCA.
Se uma família não possui carro ou não consome doces ou ainda não se alimenta fora de casa, o índice de inflação familiar será diferente do oficial, já que o peso colocado na variação do preço destes itens não impacta na apuração geral.
Impacto na vida das pessoas
Resumidamente, o aumento da inflação faz com que o dinheiro perca valor, já que ele não acompanha os aumentos dos preços.
Afetando o poder de compra, a inflação é muito ruim, principalmente para quem possui baixa renda, pois são mais fortemente impactados com os aumentos da cesta de consumo face a representatividade que possui na sua renda total.
Outro ponto é a influência da inflação na apuração da taxa de juros no país, aliás essa semana o mercado aguarda a comunicação do IPCA de junho, na sexta feira dia 10/7/2020, pois o índice com certeza irá influenciar a decisão do COPOM para agosto, que além de esperar o valor do IPCA tem outros dilemas como riscos fiscais, pressão cambial e a recessão do país.