A recente melhora dos mercados no Brasil tem como indutores a recuperação global acelerada da crise da pandemia e de uma forte alta dos preços internacionais de commodities. Como exportador, o país se beneficia com ganhos nos termos de troca, acomodando de modo mais rápido diversos impactos econômicos gerados pela Covid19. Com efeito, o avanço da vacinação global e o início da reabertura das economias abre perspectiva de recuperação cíclica mais rápida e acentuada.
Uma primeira boa notícia veio do crescimento do 1T21, de 1,2%, acima da mediana das expectativas de mercado. O PIB foi positivamente impactado pela produção de commodities, com recorde da safra (soja e milho em especial), pela forte demanda por proteína animal (recomposição de rebanhos na China, após a peste suína) e de minério de ferro
A alta demanda externa por commodities agrícolas e metálicas tem impulsionado as exportações brasileiras e contribuído para a melhora das projeções para o crescimento da economia em 2021. O preço do minério de ferro teve uma alta de mais de 40% em cinco meses, e a soja um aumento da ordem de 20%.
O PIB do agronegócio teve alta de 5,35% no primeiro trimestre deste ano. Entre as causas, estão o crescimento de quase 8% do ramo agrícola, já que o pecuário recuou 1,96%. Por outro lado, segundo o estudo, a alta nos custos resultou em crescimento de 6,65% do PIB do segmento de insumos. Também chama atenção o crescimento do PIB de agros serviços (6,62%), reflexo do bom desempenho do campo e do impacto sobre o uso de serviços de transporte, comércio, armazenagem, entre outros. As exportações do agronegócio brasileiro devem alcançar US$ 120 bilhões neste ano (20% a mais do que em 2020 e recorde histórico) e contribuir com saldo positivo de pelo menos US$ 100 bilhões na balança comercial.
A China continuará com enorme influência nos mercados agrícolas. O déficit chinês no comércio agrícola cresceu de US$ 2,6 bilhões em 2000 para US$ 86 bilhões em 2020. Para os próximos dez anos, Pequim continuará a expandir as importações, mas em ritmo menor em razão da desaceleração do crescimento da população, da saturação no consumo de algumas commodities e de ganhos de eficiência em sua própria produção.
Nesse cenário, e com o Brasil como o produtor dominante, a América Latina como um todo verá sua produção agrícola crescer 14% nos próximos dez anos. O valor líquido das exportações da região crescerá 31%, segundo o relatório – mas representa só pouco mais da metade da taxa alcançada entre 2011-2020.
Até 2030, a região continuará ampliando sua fatia no comércio das principais commodities. Poderá ter 63% das exportações mundiais de soja, 56% das exportações de açúcar, 44% de pescado, 42% de exportações de carne bovina e 33% de embarques de carne de frango.
Para a produção brasileira de carne de frango, o aumento previsto é de 16%. Os embarques poderão crescer 26% em dez anos, acima dos 14% dos EUA. A demanda chinesa deverá diminuir 18% no período. A crescente demanda da China por carne suína, por sua vez, deverá beneficiar Brasil, Canadá, União Europeia e os EUA nos próximos anos.
Com relação ao milho, a produção brasileira deverá representar 9% do total mundial, comparado a 22% no caso da China e 30% nos EUA. Fatias estáveis de exportações são esperadas para o Brasil, em torno de 20% do total global.
O Brasil deverá manter sua posição como o maior produtor mundial de açúcar (21% do total mundial), seguido de perto pela Índia (18%). O país continuará também como principal exportador, com sua fatia passando dos atuais 39% para 43% até 2030.
As exportações brasileiras de algodão deverão crescer fortemente nos próximos anos, o que assegura o país na segunda posição, com fatia de 19% do total mundial. Os EUA seguem como principal exportador e a Índia como terceiro.
A produção brasileira de carne bovina deverá continuar estável, enquanto suas exportações poderão crescer 38% nos próximos dez anos, comparado a 12% no caso dos EUA. O país, que já é o maior exportador de carne de frango, passará a ser o maior exportador de carne bovina, com 22% do mercado mundial, enquanto as exportações da Índia sofrerão queda de queda de 55% até 2030.
Portanto, ao longo de 2020 foi observada queda significativa no desempenho da economia brasileira por conta da pandemia de Covid-19 em quase todos os setores da economia. A exceção veio da agropecuária, que contribuiu e segue contribuindo positivamente para o PIB brasileiro.
Ressalta-se que o setor continua aumentando sua importância na economia nacional e mundial, especialmente em termos de exportações e empregos. As exportações do setor alcançaram níveis recordes, assim como a oferta de emprego no setor, que teve o melhor resultado para o quadrimestre desde 2011, com 70,7 mil novas vagas formais acumuladas de janeiro a abril de 2021, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério da Economia.
Para os próximos meses do ano, a agropecuária deve seguir com bom desempenho, mesmo com menor volume produzido na segunda safra. Na atividade global, as expectativas ainda não estão totalmente claras, já que dependem mais fortemente da evolução da pandemia, da necessidade de manutenção das medidas restritivas e da evolução do calendário de vacinação.
FONTE: SANTANDER, ITAU BBA, VALOR ECONÔMICO.