CURTO PRAZO

Neste artigo vamos falar sobre planejamento financeiro de curto e longo prazo, relembrando os indicadores e conceito que vimos nos últimos textos.

Nosso objetivo é descrever as atividades operacionais de curto prazo da empresa e seu impacto sobre o caixa e o capital de giro. O ativo circulante é composto pelo caixa e por outros ativos que se espera converter em caixa durante o ano. Os ativos circulantes são apresentados no balanço patrimonial em ordem de sua liquidez contábil, ou seja, pela facilidade e o tempo necessário para que possam ser convertidos em caixa. Quatro dos itens mais importantes encontrados na seção de ativos circulantes de um balanço patrimonial são: o caixa e os equivalentes de caixa, as aplicações em ativos financeiros, as contas a receber e os estoques.

De maneira similar, as empresas têm vários tipos de obrigações de curto prazo, chamadas de passivos circulantes. No passivo circulante, estão as obrigações que exigem pagamento em dinheiro dentro de um ano (ou dentro do ciclo operacional, se ele for maior do que um ano). Os três principais itens encontrados no passivo circulante são: contas a pagar aos fornecedores, despesas a pagar (incluindo as provisões para salários, impostos e contribuições) e as dívidas por empréstimos, financiamentos e por emissão de instrumentos financeiros (debêntures, notas promissórias). Como queremos nos concentrar nas variações de caixa explorar o impacto das decisões operacionais e financeiras da empresa sobre o caixa. Algumas atividades que aumentam e diminuem o caixa das empresas são:

ATIVIDADES QUE AUMENTAM O CAIXA:

Aumento do passivo não circulante (tomar empréstimos a longo prazo)

Aumento do patrimônio líquido (aumentar o capital próprio com emissão de ações)

Aumento do passivo circulante (tomar um empréstimo de 90 dias)

Diminuição dos outros ativos circulantes, não caixa (vender estoques mediante pagamento à vista)

Diminuição do ativo não circulante (vender alguma propriedade)

ATIVIDADES QUE DIMINUEM O CAIXA:

Diminuição do passivo não circulante (pagar dívidas de longo prazo)

Diminuição do patrimônio líquido (recomprar algumas ações)

Diminuição do passivo circulante (pagar um empréstimo de 90 dias)

Aumento de outros ativos circulantes (comprar estoques à vista)

Aumento do ativo não circulante (comprar alguma propriedade)

A necessidade de financiamento das contas circulantes que exceder o obtido nas contas operacionais e que não consegue ser atendida pelo capital de giro, deverá ser financiada por empréstimos de curto prazo, aportada por empréstimos bancários. O saldo devedor dos usos de curto prazo é então fechado por empréstimos bancários, e eles são contabilizados no passivo circulante.

Como vimos, o capital circulante líquido (CCL) é o ativo circulante menos passivo circulante. Como o passivo circulante é formado pelas contas representativas de fontes operacionais de curto prazo, mais empréstimos de curto prazo, então que para analisar a decisão de financiamento e avaliar a possibilidade de a empresa poder vir a enfrentar custos com dificuldades financeiras é necessário, antes de tomar decisões operacionais relativas a vendas e estoques, negociar prazos com fornecedores e clientes, estabelecendo as políticas de vendas e de crédito. 

Quando falamos em gestão financeira, o conceito de Ciclo Operacional é a soma de todos os acontecimentos referentes a uma operação empresarial (inicia com a compra de matéria-prima, passa pela produção, avançando pela venda do produto e vai até o recebimento relacionado às vendas realizadas).

Portanto, compreende o período (em média) entre os desembolsos para as operações e as entradas de caixa. Sendo assim, uma parte do capital de giro (ou sua totalidade) é financiada pelos fornecedores e seus prazos médios de pagamento. Por esse motivo, o ideal é a empresa tentar maximizar estes prazos.

Já o Ciclo Financeiro (ou ciclo de caixa) compreende o tempo de pagamento aos fornecedores até o recebimento do valor correspondente às vendas do produto final. Assim, quanto maior for o prazo dos fornecedores, mais dinheiro a empresa terá em caixa e menor será o Ciclo Financeiro.

Os bancos e outras instituições financeiras quase sempre exigem garantias para conceder empréstimos, tanto de curto quanto de longo prazo. As garantias assumem a forma de garantias reais e de garantias fidejussórias (garantias com base em fé, confiança).

As garantias reais são constituídas por hipoteca, penhor, alienação fiduciária de bens móveis e imóveis e caução de títulos. As garantias fidejussórias são o aval e a fiança. De modo geral, os empréstimos bancários de curto prazo para suprir recursos para o capital de giro das empresas podem ser classificados em empréstimos com garantia de recebíveis e empréstimos sem garantia de recebíveis. Algumas dessas modalidades de garantias são:

Empréstimos para capital de giro com garantia de recebíveis 

Desconto de duplicatas: é a operação mais comum e mais simples de empréstimo para capital de giro. Numa operação de desconto, o banco antecipa o valor de face de uma duplicata, descontando os juros desse valor. Se a empresa descontar uma duplicata de $10.000,00 com prazo de vencimento de 30 dias a uma taxa de desconto de 1,85% a.m., o banco cobrará juros antecipados de $185,00 (1,85% de $10.000,00) e creditará $9.815,00 para a empresa (antes, deduzirá do valor descontado o imposto sobre operações financeiras e provavelmente cobrará uma tarifa pela operação, o que aumenta o custo efetivo total da operação).

Antecipação de recebíveis de cartão de crédito: nas vendas a prazo para o consumidor com o uso de cartões de crédito, as administradoras de cartões efetuam o crédito para o vendedor em datas fixas mensais ou num prazo fixo após a venda (30 dias após a venda, por exemplo). Cada venda gera um direito a receber pagamentos da administradora de cartões. A antecipação de recebíveis de cartões de crédito é uma operação de empréstimo dos bancos comerciais ou da própria administradora pela qual um percentual dessas vendas é antecipado na forma de desconto ou de crédito rotativo.

Antecipação de cheques (pré-datados): trata-se da mesma modalidade de empréstimos de antecipação de recebíveis de cartões de crédito, agora antecipando o valor de cheques “pré-datados” por vendas a prazo. O cheque é uma ordem de pagamento à vista, assim o cheque pré-datado funciona com base na confiança do emitente de que o vendedor não apresentará o cheque antes do prazo acordado. O cheque pré-datado tornou-se uma das formas mais populares de venda a crédito no Brasil, pelas características de praticidade da operação.

Conta empresarial (crédito rotativo): esta é uma modalidade de crédito rotativo em que a empresa e o banco formalizam um acordo de crédito pelo qual a empresa pode sacar empréstimos livremente até um determinado percentual do valor de recebíveis depositados em cobrança ou custódia no banco. O valor da linha de crédito é fixado previamente, e a empresa deposita recebíveis num valor superior ao do limite da linha, por exemplo 125% ou 130% do limite em cheques pré-datados, recebíveis de cartão, duplicatas ou títulos para cobrança eletrônica. À medida que os recebíveis são pagos pelos sacados, a linha se reduz proporcionalmente; para manter o valor da linha a empresa deve depositar novos recebíveis.

Empréstimos para capital de giro sem garantia de recebíveis

Antes que ocorram vendas, as empresas têm necessidade de capital de giro para atender a necessidades correntes, como a compra de estoques, o pagamento de salários e contribuições trabalhistas, o pagamento de tributos ou necessidades emergenciais de caixa. Sem vendas, não há recebíveis de vendas, e então os bancos também têm produtos de empréstimos de curto e curtíssimo prazos não vinculados a vendas. Nesse caso, são exigidas garantias reais, como hipoteca e penhor, ou pessoais, como aval e fiança, podendo contar com recebíveis ou estoques em geral como garantia adicional.

Capital de giro: é a denominação geral da operação mais comum e mais simples de empréstimo para capital de giro, sem garantia de recebíveis de vendas. Um empréstimo para capital de giro geralmente é feito com base num contrato de empréstimo (um mútuo como é também chamado no meio financeiro). Atualmente os bancos têm produtos pré-aprovados, em que o empresário saca um empréstimo para capital de giro diretamente nos terminais eletrônicos ou pelo gerenciador financeiro fornecido pelo banco, podendo restituir o empréstimo em prestações mensais fixas. Este tipo de empréstimo pode ser utilizado para compra de estoques, pagamento de salários, impostos e outras despesas correntes, antes da venda dos produtos.

Cheque especial empresarial: é uma modalidade semelhante ao cheque especial para pessoa física, adaptado para o cliente pessoa jurídica. É um limite de saque em conta devedora; geralmente os bancos exigem que a movimentação seja avisada com um dia de antecedência. Trata-se de modalidade de empréstimo compromissado para atender a necessidades emergenciais de caixa detectadas antes que ocorram.

Hot Money: modalidade de empréstimo por curtíssimo prazo para atender a faltas de caixa detectadas no dia. Destina-se a cobrir saldos de caixa por motivos de falhas no planejamento de caixa ou por recebimentos planejados que não se efetivaram. É um financiamento não compromissado, com prazos entre 1 a 10 dias. O custo é atrelado à taxa DI, a taxa dos depósitos interfinanceiros entre bancos. Torna-se uma operação de custo efetivo total elevado diante da incidência de IOF e tarifas da operação.

Carteira de operações Como parte da avaliação do custo e das condições para concessão de uma linha de crédito ou de outro contrato de financiamento, os bancos consideram a carteira de negócios que o tomador mantém com o banco. A folha de pagamento da empresa é muito disputada pelos bancos. Quando a empresa deposita os salários dos seus empregados num banco, as reservas correspondentes ficam mais tempo no banco, pois os correntistas irão sacar seus salários ao longo do mês. A folha de pagamento permite também aos bancos oferecerem cartões de crédito, seguros, planos de saúde e planos de aposentadoria complementar aos correntistas. Na negociação do custo de um empréstimo, além da análise do risco de crédito do tomador, um elemento importante é essa reciprocidade comercial oferecida pelo tomador ao banco.

LONGO PRAZO     

A falta de um planejamento de longo prazo eficiente é um motivo frequente para problemas financeiros e fracasso empresarial. O planejamento de longo prazo é um meio de pensar sistematicamente sobre o futuro e prever possíveis problemas. Ele estabelece orientações para a mudança e o crescimento de uma empresa, considerando os principais elementos das políticas de investimento e financiamento da companhia. As decisões tomadas por uma empresa afetarão diretamente a sua lucratividade futura, a necessidade de novos financiamentos de fontes externas à empresa e as suas oportunidades de crescimento.  Os tipos e os valores dos ativos que uma empresa pretende comprar devem ser considerados juntamente com sua capacidade de levantar o capital necessário para financiar tais investimentos.

Um objetivo bastante cobiçado pelas empresas é o crescimento, e quase todas as empresas definem uma taxa de crescimento explícita a ser buscada por todas as suas unidades como o principal componente de seu planejamento financeiro de longo prazo. Ele também estabelece como os objetivos financeiros devem ser alcançados, assim, um plano financeiro é uma declaração do que deve ser feito no futuro.

A maioria dos modelos de planejamento financeiro exige que o usuário especifique algumas hipóteses sobre o futuro. Com base nessas hipóteses, o modelo gera previsões de valores para um grande número de variáveis e indicadores. Os modelos podem variar um pouco em complexidade, mas quase todos têm os elementos que discutimos a seguir:

Previsão de vendas: Quase todos os planos financeiros exigem que lhes seja fornecida uma previsão. Isso quer dizer que o usuário do modelo de planejamento fornecerá esse valor e que a maioria dos outros valores será calculada com base nele. Essa é uma organização comum para muitos tipos de negócios. o planejamento se concentrará nas vendas futuras e nos ativos e financiamentos necessários para dar suporte a essas vendas.

Com frequência, a previsão de vendas será informada como a taxa de crescimento nas vendas, e não como um número de vendas explícito. Essas duas abordagens são essencialmente iguais porque, se sabemos qual é a taxa de crescimento, podemos calcular as vendas projetadas. Obviamente, previsões perfeitas de vendas não existem, porque elas dependem do estado futuro e incerto da economia. Para ajudar as empresas a realizarem suas projeções, há empresas que se especializam em macroeconomia e projeções para setores econômicos.

É sempre importante analisar as relações entre crescimento de vendas e a política financeira adotada. À medida que as vendas aumentam, o total dos ativos também aumenta. Isso ocorre porque a empresa precisa investir em capital circulante líquido e ativo imobilizado para permitir níveis de vendas mais altos. Como o ativo está aumentando, o total do passivo e do patrimônio líquido também aumentará.

Previsão de custos e despesas:  Da mesma forma em que se provisiona as vendas futuras, deve-se planejar também o tamanho dos custos e despesas administrativas e operacionais da empresa. Isso pode ser feito baseado no histórico de custos e despesas ajustados pela taxa de crescimento, ou analisando qual o percentual da receita referente a estes gastos, ou seja, qual o tamanho dessa folha com base nas vendas.

Demonstrações projetadas: Um plano financeiro deverá ter uma previsão de balanço patrimonial, de demonstração de resultados e de demonstração dos fluxos de caixa. Essas previsões são chamadas de demonstrações projetadas as demonstrações contábeis são a forma que usamos para resumir os diferentes eventos projetados para o futuro.

No mínimo, um modelo de planejamento financeiro gerará essas demonstrações com base nas projeções de itens centrais, como as vendas. Nos modelos, as demonstrações projetadas são os dados gerados pelo modelo de planejamento financeiro. O usuário fornecerá um número de vendas, e o modelo gerará a demonstração de resultados e o balanço patrimonial. Tais demonstrações também podem ser chamadas de demonstrações ajustadas ou projetadas para o cenário.

Necessidades de ativos: O plano descreverá os gastos de capital projetados. No mínimo, o balanço patrimonial projetado conterá as variações do ativo imobilizado total e do capital circulante líquido. Essas variações são, de fato, o orçamento de capital total da empresa. Os gastos de capital propostos em diferentes áreas devem, portanto, ser conciliados com os gastos gerais de capital contidos no plano de longo prazo.

Necessidades de aportes financeiros: O plano incluirá uma seção sobre os arranjos financeiros necessários. Essa parte do plano deve discutir as políticas de dividendos e de endividamento. Sociedades anônimas podem obter o aporte de caixa necessário mediante a emissão de novas ações ou mediante a tomada de novos empréstimos. Nesse caso, o plano terá de considerar quais tipos de títulos mobiliários precisam ser emitidos e quais métodos de emissão são os mais apropriados.

É preciso observar que o modo como passivo e patrimônio líquido mudam depende da política de financiamento da empresa e de sua política de dividendos. O crescimento do ativo exige que a empresa decida como financiar esse crescimento. Essa é uma decisão estritamente de alçada da alta administração.

A variável de fechamento: Depois de ter uma previsão de vendas e uma estimativa dos gastos exigidos em ativos, certa quantidade de financiamento novo será necessária, porque o total projetado dos ativos excederá o total projetado do passivo e do patrimônio líquido. Em outras palavras, o balanço patrimonial não estará mais equilibrado.

Como pode ser necessário um novo aporte financeiro para cobrir todos os gastos de capital projetados, uma variável financeira de fechamento deve ser selecionada. A variável de fechamento é a fonte ou as fontes escolhidas de aportes financeiros necessários para lidar com qualquer falta (ou excedente) de financiamentos e, portanto, fechar o balanço patrimonial.

Premissas econômicas: O plano deverá estabelecer explicitamente o ambiente econômico previsto durante período de vida do plano. Entre as premissas econômicas mais importantes estão a estimativa de taxa de juros e a alíquota tributária da empresa.

Indicadores: Como vimos no último artigo, o acompanhamento e definição dos indicadores operacionais e financeiros é essencial para que o planejamento seja alcançado. Com isso, análises de curto e longo prazo podem ser feitas ajustando as necessidades de controle e decisões da administração.

O planejamento financeiro de curto e longo prazo força a empresa a pensar em objetivos. Muitas decisões exigem uma tomada de decisão rápida, e outras um longo período entre o momento da decisão e os primeiros resultados, precisam de muito tempo para execução. Em um mundo de incertezas, isso exige que as decisões sejam tomadas muito antes de serem postas em execução. Portanto um planejamento sólido e bem desenvolvido é essencial para o crescimento e perenidade de qualquer empresa.