Nos últimos anos temos observado um movimento crescente na oferta de produtos orgânicos, consequência da maior procura por consumidores que desejam uma alimentação saudável, saborosa, mais duráveis e que tenha sido cultivada preservando o meio ambiente.
É uma tendência mundial e existem pesquisas (IPEA – Produção e Consumo de Produtos Orgânicos do Mundo e no Brasil fevereiro/20) que demonstram a expansão da demanda por alimentos e bebidas orgânicas na Europa, USA, Canada e China.
O crescimento médio anual das vendas no varejo de produtos orgânicos no mundo foi superior a 11%, no período de 2000 a 2017 e mantém a tendência de crescimento pois os fatores que impulsionam o crescimento estão associados com saúde e com forte preocupação com o meio ambiente, o que faz, inclusive, com que os consumidores estejam dispostos a pagar mais por esse produto.
É um mercado com inúmeras oportunidades se considerarmos o aumento da demanda, mas que também precisa vencer obstáculos para seu desenvolvimento, seja através do aumento de área cultiváveis transformadas e padronização dos critérios e os custos de certificação.
Segundo pesquisa, no Brasil, a produção e o consumo de produtos orgânicos em que pese o aumento na demanda ainda apresentam um ritmo mais lento que o mundial, pois além dos desafios já citados, possui concentração de terras e a predominância de monocultivos (característica do setor agrário brasileiro) que limitam a conversão das terras para orgânicas e a diversificação produtiva.
O Brasil vem conduzindo esforços para se sobressair nesse segmento, a exemplo da liderança na produção de alimentos orgânicos na América Latina, muito embora não o seja na extensão de terra destinada à agricultura orgânica, ficando em 3º lugar, depois da Argentina e do Uruguai, e em 12º no mundo.
O setor é regulamentado pela lei 10.831 de 2003 e existem esforços para estimular o desenvolvimento e crescimento do segmento como o programa Pró-Orgânico (M.A.P.A.) onde são realizadas ações de desenvolvimento e capacitação organizacionais do mercado orgânico, bem como o aprimoramento e adequação de marcos regulatórios, promoção e fomento à produção e comercialização dos produtos.
Hoje ainda predominam os pequenos agricultores familiares, que além de abastecerem o mercado interno, promovem exportações de alguns produtos como por exemplo o arroz.
Uma reportagem da BBC Brasil, em 2017, destacou o Brasil como o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, com um volume de mais de 27 mil toneladas produzidas em 22 assentamentos rurais vinculados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Rio Grande do Sul, envolvendo 616 famílias gaúchas.
Desta produção 30% são exportados para os Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Nova Zelândia, Noruega, Chile e México. O restante é escoado para o mercado doméstico.
Outro movimento do setor é o comercio varejista que tem investido em marcas próprias de produtos orgânicos e criado seções especiais nas suas unidades para a venda desses produtos, como são os casos dos Grupos Pão de Açúcar (GPA) e Carrefour, um dos maiores varejistas no Brasil.
Essa ação é obviamente comercial, mas não deixa de influenciar o consumo do produto orgânico e deve refletir uma posição de destaque aqui no Brasil a exemplo do que já aconteceu no exterior.
Mas o que é um produto orgânico?
Para um produto ser “orgânico “precisa ser cultivado dentro de um sistema orgânico de produção agropecuária ou extrativista sustentável, que beneficie o ecossistema e proteja os recursos naturais (respeitando os Biomas nacionais). Precisa ainda estar em linha com as características culturais e socioeconômicas da comunidade produtora local e que siga os direitos dos trabalhadores envolvidos e não utilize organismos geneticamente modificados nem químicos sintéticos.
Essa definição oriunda da Organis – Associação de Promoção dos Orgânicos – entidade sem fins lucrativos criada em 2005, que possui associados em toda a cadeia produtiva e que desde então trabalha no desenvolvimento e crescimento do setor, tendo como diretriz a lei 10.831, que regula a agricultura orgânica.
Os produtos orgânicos, frutas, legumes, verduras, são os primeiros que aparecem como lembrança das pessoas em pesquisas setoriais, mas também existem carnes bovinas e aves orgânicas, bem como produtos de higiene, limpeza e cosméticos.
A diversidade de produtos orgânicos é grande e crescente também nos alimentos processados, como biscoitos, cereais, farinhas, sucos, barras de cereais. Além destes, complementam a lista alimentos pets, flores, algodão, café, açúcar, vinhos, cachaça e vestuário. Todos produzidos dentro das boas práticas orgânicas. Eles recebem certificação porque trazem benefícios ambientais e sociais e ainda agregam valor para toda a coletividade.
Um produto para ser orgânico precisa ser certificado
Além de conferir qualidade/procedência do produto e aceitação perante o consumidor a certificação de produtos orgânicos é o procedimento pelo qual uma certificadora, devidamente credenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e “acreditada” (credenciada) pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) pois assegura por escrito que determinado produto, processo ou serviço segue estritamente às normas e práticas da produção orgânica.
A certificação apresenta-se sob a forma de um selo afixado ou impresso no rótulo ou na embalagem do produto.
É hoje a principal forma de identificação do produto orgânico para o seu consumidor.
O selo, alguns de nós independente do consumo ou não, também o identifica. Abaixo a ilustração.
Para a obtenção do selo, no Brasil o produtor orgânico deve fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos e buscar um dos três métodos de certificação abaixo identificados:
Certificação por Auditoria – A concessão do selo SisOrg é feita por uma certificadora pública ou privada credenciada no Ministério da Agricultura. O organismo de avaliação obedece a procedimentos e critérios reconhecidos internacionalmente, além dos requisitos técnicos estabelecidos pela legislação brasileira.
Sistema Participativo de Garantia – Caracteriza-se pela responsabilidade coletiva dos membros do sistema, que podem ser produtores, consumidores, técnicos e demais interessados. Um SPG tem que possuir um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (Opac) legalmente constituído, que responderá pela emissão do SisOrg.
Controle Social na Venda Direta – A legislação brasileira abriu uma exceção na obrigatoriedade de certificação dos produtos orgânicos para a agricultura familiar. Exige-se, porém, o credenciamento numa organização de controle social cadastrado em órgão fiscalizador oficial. Com isso, os agricultores familiares passam a fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos.
A importância da certificação não atesta apenas a qualidade do produto/serviço, mas demonstra aderência aos processos éticos do movimento orgânico e confere credibilidade ao produto.
Quais são os principais produtos certificados no país?
Além dos produtos in natura e os grãos, o mercado de produtos orgânicos processados tem apresentado grande crescimento nos últimos anos. Já são encontrados sucos, geleias, laticínios, óleos, doces, palmito, pães, biscoitos, molhos, especiarias, vinho, cachaça, mel, produtos à base de soja orgânica, pratos prontos congelados, frutas desidratadas, óleos essenciais, açúcar branco e mascavo, café, guaraná em pó, barra de cereais, hortaliças processadas, extratos vegetais secos, camarão, frango e carnes.
Além do consumo interno também exportamos: café (Minas Gerais); cacau (Bahia); soja, açúcar, erva-mate, café (Paraná); suco de laranja, açúcar mascavo e frutas secas (São Paulo); castanha de caju, óleo dendê e frutas tropicais (Nordeste); óleo de palma e palmito (Pará); guaraná (Amazônia); Rio Grande do Sul (arroz, soja e frutas cítricas); Santa Catarina (arroz); Mato Grosso (pecuária).
Atributos dos produtos orgânicos
O consumidor de produtos orgânicos busca segurança alimentar, qualidade nutricional e possui forte atitude sustentável, sua preocupação com a preservação do meio ambiente e da forma como os animais são tratados fazem a diferença na sua opção de consumo. A comida não deve ser um veículo que simplesmente apazigue a fome, mas sim que a sua produção tenha o menor impacto possível no meio ambiente.
Por que os produtos orgânicos são mais caros?
A diferença de preço, normalmente a maior é conhecida tanto do consumidor orgânico como do consumidor comum, e a percepção de ambos é que o produto orgânico é mais caro por ser produzido em menor quantidade, então com escala de produção baixa o custo unitário tende a ser alto. A produção efetivada sua maioria por pequenos produtores possui tecnologia empregada em menor quantidade de produção e dificilmente consegue ser diluída no preço do produto, a barreiras também quanto a distribuição do produto, encarece e por fim os custos para obtenção das certificações necessárias.
A solução para a questão preço passa pelo aumento da demanda por alimentos orgânicos, as inovações tecnológicas e economias de escala que poderiam reduzir os custos de produção, transformação, distribuição e comercialização de produtos orgânicos.
Embora o preço seja impactante na hora da escolha para o consumidor orgânico a diferença faz todo sentido e por isso está disposto a pagar mais pelo produto. Para esse grupo não interessa apenas a produtividade e custo do produto, mas impera a saúde de pessoas, animais do meio ambiente.
Quem são os produtores orgânicos?
Os produtores orgânicos estão divididos em dois grupos: pequenos agricultores familiares, ligados a associações, cooperativas e grupos de movimentos sociais, que representam aproximadamente um 90% do total de agricultores, e empresas (10%), ligadas a iniciativa privadas.
Os agricultores familiares são responsáveis por cerca de 70% da produção orgânica brasileira e respondem por parte da renda gerada com esses produtos.
Na região sul o sistema orgânico é composto, em sua maioria, de agricultores familiares, cooperativas e pequenas propriedades.
Na região central a participação é prioritariamente de grandes propriedades.
Em relação ao tipo de produto, os grandes produtores se destacam na produção de frutas – citros e frutas tropicais, cana-de-açúcar, café e cereais orgânicos (soja e milho, basicamente) e pecuária orgânica em áreas extensivas, com destaque para o Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Os pequenos produtores são os principais responsáveis pelo abastecimento interno, produzindo hortaliças, frutas e alimentos processados.
Fontes: Ministério de Agricultura, MAPA; Centro de Inteligência em OrgânicosPlaneta Orgânico; Guia Mercado Livre; IBD
Setor e a Pandemia do Covid 19
Desde março/20, aqui no Brasil, quando as pessoas precisaram ficar mais em casa pelo isolamento social, o que se viu foi um incontável número de pessoas que passaram a cozinhar em casa, procurando receitas, utensílios domésticos há muito não utilizados e produtos para fazer os pratos a que se propunham.
Nessa investida observou-se também a procura por produtos orgânicos (de pequenos produtores preferencialmente) mais nutritivos e saudáveis para contéudo dos pratos agora produzidos caseiramente.
De acordo com Organis (Associação de Promoção dos Orgânicos), entidade sem fins lucrativos que divulga as práticas orgânicas, as vendas no setor registraram alta.
Em apenas 30 dias, do dia 15/03/2020 a 15/04/2020 o faturamento foi de R$ 500 milhões, com estimativa de fechar 2020 com R$ 5bi contra R$ 4,5 bi em 2019.
O setor enfrentou dificuldades com a suspensão de algumas feiras livres, que era a principal alternativa para escoar os produtos, e claro precisaram se reestruturar e encontrar uma nova solução, no caso o delivery.
De acordo com a Organis (Associação de Promoção de Orgânicos) houve um aumento na procura de produtos orgânicos pela internet e o preço que é um importante delimitador, não foi tão representativo na pandemia, pois as pessoas procuraram os orgânicos porque são mais saudáveis.
Perspectivas
O faturamento mundial do setor de orgânicos já ultrapassou a barreira dos 100 bilhões de dólares. Os Estados Unidos representam quase a metade do mercado mundial, seguidos por Alemanha, França, China e Canadá.
No Brasil, há mais de 21 mil produtores orgânicos certificados e o faturamento do setor ficou, em 2019, na faixa dos R$ 4,5 bilhões. As exportações de orgânicos chegaram a cerca de 190 milhões de dólares.
Faz tempo que o Brasil vem se esforçando para consolidar seu mercado de orgânicos. A lei dos orgânicos – que é de 2003, mas só foi regulamentada em 2011 – foi uma conquista.
E a boa notícia é que o setor projeta crescer entre 10 e 15% em 2020 e continuar crescendo nessa faixa de dois dígitos ao longo dos próximos anos.
Em resumo o produto orgânico é produzido sem prejudicar o meio ambiente, os animais e as plantas, não podem degradar o solo, presam pelo respeito aos trabalhadores, as condições socio culturais regionais, não há produção de transgênicos e nunca pode ser utilizado agrotóxicos ou substâncias sintéticas.
O produtor precisa atestar produção por pelo menos 3 anos como produtor convencional até obter selo de produto orgânico, precisa ter muito conhecimento técnico e seguir exigências legais para que os produtos de origem animal – carnes, leite, ovos, mel – sejam orgânicos. Não podem ser tratados com antibióticos e outros remédios alopáticos. Só com homeopatia, fitoterapia, produtos naturais, manejo correto, práticas de bem-estar animal. Só recebem pasto e rações produzidos de acordo com a lei brasileira de orgânicos.
O setor assim disposto demonstra que produzir orgânicos é mais caro que produzir convencionais. E explica que com o desenvolvimento do mercado de orgânicos, muitos produtos já são competitivos em relação ao preço.
O consumo de produtos orgânicos vem crescendo e atraindo consumidores interessados em alimentação saudável e com a preservação do meio ambiente, mas também começam a surgir oportunidades de negócios. Existem os produtores, processadores, prestadores de serviços, varejistas que são engajados em construir um mundo melhor.
O setor é conhecido como um organismo onde cada parte é responsável por uma parte na produção de alimentos, bebidas, produtos de beleza e de higiene e limpeza, menos poluentes e, portanto, mais duradouras.
As empresas estão percebendo que ao ingressar no mercado de orgânicos, estão agregando valores as suas marcas, sem contar a possibilidade de conquistarem novos clientes.